Alice recebeu o recado da equipe de buscas assim que eles tinham saído. Na melhor das hipóteses, não haveria notícia antes das dez da manhã. Tomaram café engasgando com a expectativa. Quando um dos três tomava coragem para falar alguma coisa, era com relação à vida nova que agora teriam com o pai. Camilla chegou a dizer que começaria a aprender a cozinhar pelos pratos que achava que o pai gostava.
Às dez e meia, o telefone da recepção do hotel urrou. Muita gente estava por ali, esperando notícias. O dono do hotel, cioso de seu papel, fez caras e bocas até expressar um sorriso de dentes remendados com ouro. – O controle de Vilhena ligou para a pista e disse que os destroços do avião foram encontrados!
- Meu Deus, - Alice quase pegou o sujeito pelo colarinho – André está bem, como ele está? – O homem deu de ombros e disse que não sabia. Ela tomou o fone de suas mãos e repetiu a pergunta ao homem da pista. Escutou por um momento e desarmou o semblante. Realmente não se sabia nada, além disso. O presságio era ótimo, mas incipiente, para uma situação tão grave.
Os minutos que se passaram duraram séculos. Alice não sabia mais o que fazer, além de abraçar os filhos, chorar e olhar para o telefone. As pessoas, que a tudo assistiam por pura curiosidade, já estavam comovidas e também sofriam. Tudo estava em desagradável suspensão, até o ar estava parado, em compasso de espera.
Onze e vinte. O telefone tocou. Alice correu e atendeu. Era o homem da pista, falando baixo e arrastado. – A equipe de busca e salvamento havia baixado um para-médico até os destroços, e ele tinha constatado a morte do piloto, os procedimentos de recolher o corpo já estavam iniciados e...- Alice não quis ouvir mais. Correu até os filhos, que já choravam desde a primeira troca de seus olhares, segundos antes.
Subiram ao quarto, por sugestão de alguém. A angústia foi se desfazendo em lágrimas, o vazio foi se deixando tomar pela realidade, a tristeza que doía tanto foi tomando o gosto de um anestésico suave. O senso de urgência das providências que teriam que ser tomadas foi inundando Alice, que resolveu que agora teria mesmo que avisar a sogra.
A serenidade daquela mulher era tudo que Alice precisava para enfrentar aquilo. Ela ouviu tudo, sem dizer nada, suspirou profundamente, perguntou das crianças e disse: - Alice, minha filha, a morte do André tem que ser entendida acima de nossa dor. Ela fecha um ciclo de coisas que estavam fora de lugar. Deus precisava refazer essas pinceladas que estavam fora do tom. Você soube como ninguém fazer chegar aos seus filhos apenas o lado bom de meu filho, e por isso lhe serei eternamente grata. Sei também que ele já estava muito próximo de se tornar o homem que você merecia de volta. Seja a mulher forte que eu sei que é, tome seus filhos, enterre seu marido, retome sua vida e vamos estar mais juntas para passar por isso. – Os soluços desabaram por sobre a ligação.
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